Thursday, May 16, 2013

An open letter to my daughter

Hi Claudia,
 
I hope you are all doing well and almost packed to move back to your home in Colorado. 
  
How are you and your precious family doing? I hope you had a good time during your trip to Portugal. I am sorry the weather was not really on your side. It was so wonderful to see all of you all over again. You do have beautiful kids. I am happy for you and Keith. 

We are back from our trip to Africa. I am going to post some pictures on the Internet and send you links so you can see them.

Our trip went well and we did have a good time interacting with the young girls at the orphanage. But we were very disappointed with the countries we visited.

I think Mozambique has been frozen 50 years back in time. Living conditions there are ephemeral. Poor everything. Poor schools, poor security, poor roads, poor jobs, poverty everywhere and a racist attitude I had not seen in ages. The new "haves" are as arrogant, if not more, than the Portuguese or the South Africans of the 60s.

South Africa is better in terms of infrastructures but the insecurity is appalling. People live behind bars and electrified barbed wire. In Mozambique too. I am not sure you will be able to imagine your children playing in a backyard surrounded by high walls topped with electrified barbed wire? 

I often thought about our painful move away from Africa back in the 70s when you were still very young and we all aspired to a happy life in Africa. But now I must say that our departure was a blessing in disguise. I am so happy you live in the USA. And I am so glad I am living in Europe.
 
Take care and keep in touch.
Love you dearly,

your Dad

Saturday, May 11, 2013

Um país adormecido

Um amigo meu chama-lhe o país do absurdo. Compreendo porquê. Há um sem fim de exemplos que validam a classificação do meu amigo:
  • Luta-se pela erradicação da malária. A Raínha de Espanha e o Bill Gates subsidiam a pesquisa da vacina contra a malária. Mas as pessoas dormem à noite com redes rotas ou mesmo sem elas, como quem não acredita na seriedade do problema nem no valor do esforço e do dinheiro destas personalidades.
  • O ministro da agricultura patrocina conferências e faz discursos sobre a segurança alimentar do país. Mas 80% do mundo rural prossegue no seu lento dia a dia a plantar as mesmas plantas, com as mesmas enchadas e paus, com o mesmo primitivismo, e ao mesmo ritmo de agricultura de subsistência de há 50 anos.
  • Enquanto a população em massa continua a acreditar em poderes sobrenaturais, como os que atrofiaram a perna daquele homem quando alguém deitou água no chão da sua cabana enquanto dormia, as igrejas continuam a aplicar uns band-aids religiosos por cima daquilo em que o povo acredita. Não se educa o povo. Aplica-se uma doutrina por sufoco como a que os nossos antepassados tentaram aplicar noutros tempos e sem sucesso.
  • Neste país o clima tropical exige edificações apropriadas. A falta de energia reflecte-se em falhas diárias. A água da rede não tem pressão suficiente. Mas os novos edifícios são envidraçados com vidro simples, sem isolamento nem ventilação natural, e cada vez mais andares.
  • As praias deliciosas embaladas por um oceano amigável são um atrativo para muitos turistas que podem trazer divisas muito necessárias ao país. Mas encontram-se sem acessos adequados e sem infraestruturas competitivas. Muitas estão poluídas com garrafas de plástico, restos de rede de pesca, chinelos velhos abandonados, e outro lixo que não vi noutros países onde também se vive do turismo e das praias.
Eu diria que, além de ser um país do absurdo é também um país sem competitividade e em decadência. Um país com recursos e potencial mas que se deixou embalar pelo dinheiro fácil das doações e subsídios vindos de fora. Um país que vai vender os seus recursos a quem mais souber jogar o seu jogo preferido, o do enriquecimento ilícito pelas elites, mas que não tem competitividade em nada. É um país que se deixou ficar no tempo que já lá vai. Um país de 40 a 50 anos perdidos. Mesmo subtraindo os anos de guerra civil não consigo justificar tanta decadência.

Este é um país onde o governo anda 180º desfasado em relação às necessidades do país e do seu povo. Os últimos 40 a 50 anos foram de pouco progresso. Os pobres continuam a viver na cidade do caniço cada vez mais sufocante, cada vez mais criminosa, cada vez mais abjecta. Os ricos vivem cada vez mais soberbos, mais arrogantes e mais corruptos nos seus ghettos protegidos por guardas e arame farpado electrificado, receosos da crescente insegurança e criminalidade.

É um país sem indústria, como dantes. Onde tudo vem da África do Sul. Os supermercados são todos de cadeias Sul Africanas. Woolworths, Mr. Price, Pick & Pay, Spaar, etc. O comércio local não vende nada de fabrico Moçambicano. O açúcar, o leite, a farinha, o arroz, vêm da África do Sul. Como dantes. Como há 50 anos ou pior.

Não há livros nem revistas a circular. Numa cidade de 3 milhões de pessoas há 3 livrarias que se prezem. Como pode um povo aprender e progredir sem livros? As redes sociais estão cheias de vacuosidades. A escolaridade é medida pelo número de alunos que se inscrevem na primeira classe. É esse número que mede a literacia. Ninguém fala das taxas assustadoras de abandono escolar.

O povo é pacífico e dócil, como dantes. O povo tradicionalmente ouve a autoridade de quem manda. Mas as autoridades notam-se pela sua ausência ensurdecedora nos assuntos de importância para o país e para o bem estar do povo bem como pela sua presença nas notícias constantes sobre a corrupção descarada que defrauda o povo, que defrauda o país.

lixo por todo o lado. Como se o país sofresse de uma prisão de ventre infernal. Consome-se mas o lixo mantem-se dentro do sistema. Não sai do caminho. Existe por todo o lado. Nas ruas, nas traseiras das casas, nos edifícios abandonados, nas estadas, no mato, nas praias, nos mercados de rua. Ninguém parece estar preocupado com isso embora se trabalhe muito para a diminuição da mortalidade infantil por diarreias e outras maleitas.

Senti que o país não difere do que era no tempo da outra senhora. Um país sufocado, sem competitividade, sem capacidade productiva. Mas se realmente difere, será pela degradação e não pelo progresso. É realmente um país do absurdo, um país adormecido.

Adoro o seu povo mas já não me identifico com esse país. Com muita pena o digo.
 

Wednesday, May 8, 2013

Os documentos do carro...

Fomos mandados parar pelo polícia de trânsito no fim da avenida quando esta acaba na Julius Nyerere. Eu tinha parado no sinal luminoso à espera que virasse verde e ligado o pisca para virar à esquerda.

Era de noite, umas 9 da noite, e acabei por parar o carro num espaço pouco iluminado, o que não me agradou nada. O senhor não tinha o pisca ligado, disse-me o polícia. Retorqui que tinha o pisca ligado, sim.  Não contestou.

Os documentos, pediu o guarda. Ao entregar-lhe a carta de condução percebi que tinha deixado os documentos do carro em casa. O carro era do meu cunhado, com matrícula da cidade do Cabo. Disse-lhe que não os tinha. Então isso dá multa, disse o guarda. Num rasgo de chico-espertisse disse-lhe que não porque eu tinha 24 horas para apresentar os documentos na esquadra. Não sei se é verdade mas pegou.

Onde é que leu isso? perguntou o guarda. Mas antes que eu pudesse responder, ele acrescentou - e há quanto tempo estou eu aqui? Respondi que não sabia. A conversa tinha começado a parecer conversa de surdos. O polícia fez cara de estar enfadado com a conversa. Nesse momento, com ar de desprezo, virou-me a cara, devolveu-me a carta de condução e mandou-me seguir. Respirei fundo e fui-me embora. Com o pisca ligado de novo, por mor das dúvidas.

Aprendi mais tarde que esta conversa é típica de quem quer patrocínio, que é a nova palavra para saguate, corrupção, por outras palavras.

Há bem pouco tempo os polícias pediam refresco, mas houve espertos que andavam com uma lata de refrigerante no carro e o nome dessa coisa passou de refresco para patrocínio. Realmente é uma palavra muito mais pomposa.  

Eu vi um país em desenvolvimento


Eu conheci esse país noutros tempos. Nessa altura as avenidas eram largas, rasgadas de lés a lés. Essas avenidas em linha reta eram apreciadas por todos quantos as percorriam. Quer por quem lá vivia mesmo na azáfama do dia a dia, quer por quem visitava.
Hoje essas avenidas ainda lá estão e ainda suscitam orgulho aos que lá viveram e saudade dos tempos da nossa juventude quando por lá andámos a pé ou de bicicleta, sob o mesmo sol inclementemente tropical.
Os edifícios eram o orgulho embora muitos não fossem adequados ao clima. Eram de uma construção que tentava imitar os edifícios da Europa distante. Só os edifícios do tempo anterior ao ar condicionado apresentavam características mais propícias ao clima quente e húmido dos trópicos.
Hoje esses edifícios sem condições tropicais ainda lá estão, delapidados, sem pintura, com grades até ao último andar, sujos, sem elevador, onde frequentemente falta a água e a eletricidade. É assim cá, dizem os locais. Welcome to Africa, dizem os mais cultos.
Os edifícios novos continuam a ser apenas imitações pouco apropriadas ao clima. Com telhados sem respiração e beirais sem ventilação. Alguns, imitando a arquitetura angular moderna ostentam coberturas planas com varandas que não dão vista para nada. Toda a falta de adaptação ao clima tropical é suprida por aparelhos de ar condicionado.
Os edifícios de residências pomposas mostram a baixa qualidade dos construtores locais. Há buracos nas paredes. Restos inacabados de pontos de luz que não foram instalados. Muros que nunca foram terminados por cima embora já pintados. Os degraus desiguais são acidentes à espera de acontecer. Portas de madeira maciça empenada, mal acabada e mal aparelhadas. A imperfeição é generalizada e de mau artesanato.
Estas casas são as que encontramos nos ghettos de ricos. Todas protegidas por guardas, arame farpado e vedações eletrificadas.  Por trás dos muros trabalham uns poucos cidadãos locais privilegiados que servem os patrões que hoje pertencem a uma elite com mentalidades do pior que a raça lusa jamais produziu.
No tempo em que eu lá vivi havia uma camada social de colonos que tendo atingido neste território um nível de vida muito superior aos que tinham tido na sua terra natal adquiriram os hábitos boçais do novo rico. Tratavam a população local com desdém e muitos até com soberba insultuosa.
Hoje a maior parte dessa gente já lá não está, mas os que lá estão mantiveram o mesmo desdém e a mesma soberba para com os mais fragilizados que exploram sem remorso. Welcome to Africa, dizem eles.
Tive pena dessa gente e receio pelo seu futuro. É triste e por vezes revoltante essa África que eu vi.

Aviso aos navegantes I


Quando a estrada aberta deixa de ter quatro pistas e passa para apenas uma pista em cada direção por causa das obras frequentes e sem fim, há placas de sinalização a indicar a redução da velocidade máxima. Rapidamente se passa de 120km/h para 100km/h, depois para 80, acabando nos 60 km/h. Tudo isto acontece no curto espaço de estrada que é marginalmente suficiente para cumprir a lei pelo uso consciente e incisivo dos travões do carro. Será para isto que inventaram os travões de disco? 
Ao longo da zona em obras há grupos de homens vestidos de macacões cor de laranja, ou envergando coletes de um amarelo luminescente. Na grande maioria dos casos esses homens encontram-se sentados na berma da estrada, sem ocupação visível, como que à espera de alguém que lhes venha indicar a tarefa seguinte. Não vi ferramentas nas proximidades desses homens.
Alguns, poucos, trabalhavam acocorados no pavimento da pista em obras, sob o calor inclemente do sol de África, com pequenas ferramentas de tipo ligeiro, quase caseiro, como que a esfregar cada pedrinha com uma escova dos dentes.
A pouca distância da última placa de limite de velocidade há quase sempre um grupo de homens ocupados junto aos pilões de plástico que separam a pista de circulação da pista em obras.
Esse grupo, indistinguível dos outros grupos, é da polícia de estrada e está munido de aparelhos de deteção da velocidade dos carros que passam. Não está na realidade a tentar controlar e impor a velocidade máxima. Para isso estariam bem visíveis. Estão na caça à multa. Oficialmente.
Fomos parados por um desses grupos da polícia. Disse-nos o agente da polícia que se dirigiu ao nosso carro que íamos a 87km/h numa zona de velocidade máxima de 60km/h. Não tive argumento, apenas que pensava estar a cumprir a lei e que ia num grupo de outros carros e todos íamos à mesma velocidade.
O agente informou-nos que teria de nos passar uma multa de SAR 750. Ao que eu respondi que me passasse então a multa. Mas o homem continuou a dizer que para me passar a multa com recibo teria de o fazer na esquadra que se situava lá por trás de umas colinas para onde ele apontou, a uns 50 km de distância, e que teria de esperar a escolta do carro da polícia. E que não tinha previsão para quando o tal carro iria passar por ali de novo.
Nessa altura sugeriu que me poderia deixar seguir se eu pagasse ali mas sem recibo. Acabámos por fechar negócio aos SAR 400. E seguimos viagem indignados.
Um amigo nosso confirmou mais tarde que tínhamos atuado bem e que se fossemos mandados parar de novo deveríamos repetir o processo. Esse amigo também nos disse que quando o polícia mete a mão dentro da janela do carro é sinal que está a pedir resgate, comissão, chamem o que quiserem, essa posição de mãos indica que estão abertos à corrupção.

Aviso aos navegantes II


Quando se chega à fronteira os serviços são de um primitivismo e uma ineficiência impensável no século XXI.
À entrada da zona do posto de fronteira um funcionário entrega-nos um papel de uns 10cm por 20cm onde ele acabou de escrever o número de matrícula do carro e o número de passageiros sem nos dizer para que serve. Estacionámos o carro onde havia lugar. Neste posto de fronteira pode-se deixar o carro sem receio de assaltos.
Prossegue-se para uma fila única que no nosso caso já se estendia pelo passeio ao sol. Depois de esperarmos em fila algum tempo entrámos no edifício. À porta há um painel descrevendo a sequência – “customs first”, alfândega primeiro e depois controle de passaportes. No guiché de alfândega uma funcionária conta folhinhas enquanto vai carimbando outras como a nossa quase sem olhar para a folhinha ou para o portador.
Do lado das partidas há muitos passageiros e poucos funcionários. Do lado das chegadas acontece exatamente o contrário.
O balcão das partidas, situado por trás de vidros e armações de ferro pintado, dá de costas para o balcão que serve as chegadas. Os funcionários ocupam o espaço entre os dois balcões. Nas nossa fila, a das partidas, há uma progressão lentamente dolorosa. Há vários guichés sem funcionários. Os passaportes são inseridos em leitores eletrónicos com uma regularidade lenta, carimbados e rubricados.
Por algum motivo que não compreendemos há mais funcionários nos guichés das chegadas e muito menos viajantes do que no nosso lado, o das partidas. É possível que as entradas neste país mereçam mais atenção e mais cabeças a pensar porque de vez em quando alguns funcionários do nosso lado, das partidas, viram-se para conferenciar com os colegas do lado das chegadas sobre algum caso mais bicudo.
A ineficiência, apesar do sistema digitalizado de leitura de passaportes, é palpável. O papelinho que a funcionária de alfândega carimbou é agora carimbado mais uma vez. Os nossos passaportes são-nos devolvidos e estamos prontos para sair a caminho da outra fronteira, a de entrada no país de destino. O papelucho é por fim entregue a um funcionário do posto de fronteira e achamo-nos em terra de ninguém.
Aqui não há confusões de revistas a carros, não há despachantes a oferecer serviços mais acelerados, não há trocas escuras de divisas, não há corrupção aparente nem parece haver oportunidades para que esta se estabeleça.
A bomba de gasolina que nos disseram haver aqui já não existe. O calor era muito mas não demasiado. O sol africano parecia estar a poupar-nos.

Aviso aos navegantes III


Quando se chega à fronteira de entrada neste país que é o nosso destino e onde se fala a nossa língua há um funcionário dos serviços de fronteira que escreve a matrícula do carro e o número de passageiros noutro papelinho, semelhante ao do outro lado, que nos entrega sem dizer para que serve. A uns metros desse funcionário há um grupo de homens, sem farda, mas com uma plaqueta de identificação pendurada ao pescoço. Mandam parar o carro e pedem pelo papelinho que o funcionário nos acabou de dar, e indica-nos para seguir um deles. Não é possível ler o que está escrito nas plaquetas de identificação pois que todas estão viradas com o lado em branco para fora. Notei e não gostei da coincidência.
Quando perguntamos quem são então nos dizem que são agentes independentes, despachantes, que furam a fila e passam com os nossos passaportes pelo processamento em que naquele momento entrava uma fila de dezenas de outros cidadãos que escolheram não usar os serviços de um destes despachantes. Tudo isto em troca de uns Meticais.
Antes de sair da zona de fronteira e seguir viagem é necessário comprar seguro contra terceiros para o país de destino. Há várias empresas com quiosques dentro da zona de fronteira. Concessões concedidas a alguns sob um processo de contratação que me é desconhecido. 
Foi num destes quiosques que comprámos o nosso seguro contra terceiros e onde por fim aceitámos os serviços de um dos despachantes que também era empregado da agência de seguros. Não por confiarmos no sistema mas porque a fila era realmente longa, estávamos cansados da viagem e porque confiámos no facto que o despachante indicado tinha o aval do agente da empresa seguradora cujo nome nos era familiar.
Em troca de 100 Meticais esse agente passou pelo controle de passaportes, preencheu um formulário de entrada do carro que já estava pré-carimbado e assinado pela alfândega, e atraiu um agente alfandegário para a vistoria do carro e a assinatura final no papelucho que nos iria permitir sair da zona de fronteira e seguir o nosso caminho.
É preciso levantar dinheiro no Multibanco para pagar em Meticais as portagens.